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Silêncio seletivo: a mudança de tom de Lula diante do Banco Central

Durante os anos de 2023 e 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos mais contundentes críticos da política monetária conduzida por Roberto Campos Neto, então presidente do Banco Central. Chamando-o de “esse cidadão” e acusando-o de “jogar contra a economia brasileira”, Lula não poupava palavras ao comentar os juros elevados, que à época estavam em 13,75% ao ano.

No entanto, o cenário mudou em 2025. Com a saída de Campos Neto, Lula indicou Gabriel Galípolo — ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda — para comandar o BC. Curiosamente, mesmo com a taxa Selic tendo subido para 15%, o maior patamar em 19 anos, o presidente abandonou o tom crítico que antes era frequente.

A contradição é evidente: Galípolo, agora no comando, manteve a mesma política de juros altos que Lula tanto condenava. Ainda assim, o presidente optou pelo silêncio. Nem mesmo figuras próximas, como a ministra Gleisi Hoffmann, mencionaram o nome de Galípolo ao criticar a decisão do Copom de elevar os juros.

Por que Lula, que antes acusava o BC de sabotar o crescimento, agora evita qualquer confronto? Uma hipótese é a conveniência política: ao indicar Galípolo, Lula passou a ter um aliado no comando da autoridade monetária. Criticá-lo seria admitir que a política econômica do próprio governo não está surtindo o efeito desejado. Outra possibilidade é a tentativa de preservar a imagem de estabilidade institucional, evitando ruídos com o mercado financeiro.

O fato é que a coerência parece ter ficado em segundo plano. A crítica que antes era apresentada como defesa do povo e da economia agora dá lugar a um silêncio que, para muitos, soa como conivência. Afinal, se os juros altos eram inaceitáveis sob Campos Neto, por que seriam toleráveis sob Galípolo?

Essa mudança de postura levanta uma questão incômoda: o problema era a política monetária ou quem a executava? Para um governo que se diz comprometido com a transparência e a justiça social, a seletividade nas críticas pode custar caro — em credibilidade e em confiança.

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