Jovem esquizofrênico morre em ataque de leoa no zoológico, mas sua verdadeira morte foi decretada pela negligência estatal.
Um jovem de 19 anos, diagnosticado com esquizofrenia, morreu após invadir a jaula de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa. O episódio, que poderia ser apenas mais uma tragédia urbana, é na verdade um retrato cruel da falência do Estado brasileiro em proteger os mais vulneráveis.
Gerson de Melo Machado, conhecido como “Vaqueirinho”, não deveria estar nas ruas. Portador de esquizofrenia, abandonado pela família, foi acompanhado por uma conselheira tutelar que, sozinha, lutou por oito anos para garantir algum cuidado. Mas o Estado, que deveria ser o guardião da vida, preferiu virar as costas.
Esse jovem foi vítima da omissão institucional. Não morreu apenas pelo ataque da leoa, mas pela negligência de um sistema que se recusa a enxergar os doentes mentais como cidadãos dignos de atenção.
O animal não pode ser responsabilizado. A leoa agiu por instinto, dentro de seu espaço de confinamento. Recebeu cuidados imediatos, acompanhamento veterinário e garantias de que não seria sacrificada. É irônico e revoltante perceber que o Estado se mobilizou para proteger a leoa, mas não fez o mesmo pelo jovem humano que agonizava em sofrimento mental.
Enquanto conselheiros tutelares carregam sozinhos o peso de cuidar dos esquecidos, o Estado se ocupa em transformar a sociedade em laboratório de ideologias, ignorando o básico: saúde, acolhimento, dignidade.
Falhou em garantir tratamento.
Falhou em oferecer acolhimento.
Falhou em proteger a vida.
O sangue de Gerson está nas mãos de um sistema que prefere discursos vazios a políticas públicas eficazes.
Essa tragédia não é apenas sobre um jovem e uma leoa. É sobre um país que abandona seus cidadãos mais frágeis e depois finge surpresa diante da morte anunciada. Gerson merecia viver. Merecia tratamento, cuidado, dignidade. O Estado o matou pela omissão. E a leoa, injustamente envolvida, apenas cumpriu seu papel de animal selvagem.
O verdadeiro predador aqui não foi o animal. Foi o Estado.
Francisco Gomes

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